UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Chuva


        Que chove?
        É chuva de vida
        ou de pensamento?
        Se chove tanto,
        chovesse mais...
        Mais que chuva,
        mais que vento:
        chovesse Céu.

        Chovesse o Céu, eu voaria?
        Ou ventaria, feito papel?
        Se eu voasse, nadaria?
        Nada disso!
        Seria pipa, voando ao léu,
        e da chuva me encharcaria,
        da mesma chuva que me nasceu.

        Que chuva chove?
        Se é de vida,
        chovesse o Céu!

(Autora: Célia de Lima)

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