UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 28 de agosto de 2011

Não seja de vidro


O melindre costuma causar 
estragos nas relações humanas.
Por excesso de sensibilidade, 
amizades são rompidas e grupos se desfazem.
A pessoa melindrosa ofende-se com muita facilidade.
Ela identifica intenções ofensivas nas coisas mais banais.
Uma simples brincadeira ou uma palavra mal 
escolhida podem fazê-la sentir-se gravemente ofendida.
Uma criatura tão delicada, fica sempre 
atenta aos atos e dizeres dos outros.
Se encontra qualquer coisa remotamente
parecida com uma crítica, melindra-se.
Esse modo específico de sentir revela uma grande vaidade.
O melindroso imagina-se o centro das atenções aonde quer que vá.
Acredita que os outros se preocupam em excesso com ele.
Justamente por isso, pensa que tudo o que é feito 
ou dito a sua volta refere-se a sua pessoa.
E a realidade é que os homens gastam muito 
pouco tempo preocupando-se de forma  
definida com seus semelhantes.
Cada qual tem sua vida e seus problemas.
Salvo se você for uma sumidade em determinada área, 
provavelmente os que o rodeiam não se ocupam
particularmente com seus atos.
Fora de seu grupo familiar, raramente alguém 
se detém para esmiuçar seu proceder.
E quando o faz, é por breve tempo.
Não se imagine o centro do mundo.
Os outros não falam ou agem com o 
firme propósito de ofendê-lo.
Eles nem pensam muito em você.
Não seja de vidro no trato com os semelhantes.
Não veja ofensas onde elas não existem.
Preocupe-se com a essência das coisas.
O corre-corre do mundo moderno nem sempre
permite que tudo seja dito oufeito com a suavidade desejável.
Certamente você também não pensa 
inúmeras vezes em cada palavra que diz.
E igualmente não pauta sua vida pelo
interesse de atingir os que o rodeiam.
Muitos de seus atos e palavras podem ser mal interpretados.
Ocorre que quem procura razão para sentir-se 
ofendido certamente encontrará.
Trata-se principalmente de um estado de espírito.
Conscientize-se dessa realidade.
Não se imagine mais importante do que na realidade é.
Viva com leveza e bonomia.
Se alguém criticar algo que você tenha feito, 
não se ofenda.
Não torne tudo pessoal.
A crítica nem sempre é destrutiva.
Aceite que você às vezes falha.
As observações dos amigos podem auxiliá-lo a ser melhor.
Procure tolerar sem melindre, mesmo alguma 
observação maliciosa a seu respeito.
Em um ambiente descontraído, com freqüência 
alguém é motivo de piadas.
Trata-se de uma dinâmica especial de certos locais.
E a intenção raramente é ofender.
Tanto é assim que se altera constantemente o alvo da troça. 
É necessário que os participantes de um grupo 
ou meio social tenham liberdade uns comos outros.
Evidentemente, há limites para tudo.
Mas sem uma certa dose de sinceridade e espontaneidade, 
resta somente aformalidade e a hipocrisia.
Em um clima hipócrita, nada de real se cria 
e ninguém se sente seguro e à vontade.
Assim, seja leve em seu viver.
Não se ofenda a todo instante, por tudo e por nada.
Isso apenas o isolará de seus semelhantes, 
sem qualquer resultado útil.
Pense nisso.

(Fonte: Momento Espírita)

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