UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 20 de agosto de 2011

Tristeza


Um tapete sem viço, as flores formam no chão,
E em agonia as folhas dançam enlouquecidas!
E esvoaçando deixam para trás a solidão,
Das horas que por mim passam perdidas!

Um cinzento céu!... Escuro!... De monótona beleza,
Envolve num langor de morte, o outono!... A vida,
Passa por mim e segue em melancólica tristeza!
- O que é a existência, senão uma despedida?!

As folhas caem por terra!... Vão-se mortas de saudades!
Deixam - em mim -, a angústia de um tempo passado!
Levam de mim os anos que agora vão finados!

Por entre as árvores, a claridade fenece!... Agoniza à tarde!
Na alameda de plátanos que em delírios construí,
Caminham tão-somente os fantasmas que nunca esqueci!

(Autor: Tanatus)

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