UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Por amor se compõe...


Por amor se compõe. 
Se descompõe. 
Alucina, enlouquece. 
Percebe, esquece (não)-adormece. 
Intensifica, fascina. Cede. Anula. Emudece. 
Morre e renasce. Deseja. Espera, procura. 
Chora. Respira. Sorri. 
O amor tem me dado tempo pra pensar 
em palavras definidas, 
embora defini-lo seja um ter aprisionado: 
não se revela por um todo, 
pois amar é metade da gente e metade do outro.
É dependente. Imprevisível (cruel e inocente). 
O amor envolve tal como se vê, o amante, 
como aroma num frasco perfumado: 
invadindo da tua fragrância os poros da gente. 
Sentindo. Viciando de querer vivenciar aquilo. 
É entregar nossa melhor parte: o lado que resta, florido. 
Por amor ainda tenho sobrevivido, mesmo eu entre ele: 
joio e trigo, amado e inimigo. 
Amor Amor Amor! Por acreditar é que insisto, 
que há de nascer uma manhã diferente, de todas as minhas: 
onde meu olhar, instintivamente sobre o criado mudo, 
não recolherá mais os beijos que caem do meu sonhar-te.

(Autora: Patty Vicensotti)

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