UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Monólogo



Para onde vão minhas palavras,
se já não me escutas?
Para onde iriam, quando me escutavas?
E quando me escutaste? - Nunca.

Perdido, perdido. Ai, tudo foi perdido!
Eu e tu perdemos tudo.
Suplicávamos o infinito.
Só nos deram o mundo.

De um lado das águas, de um lado da morte,
tua sede brilhou nas águas escuras.
E hoje, que barca te socorre?
Que deus te abraça? Com que deus lutas?

Eu, nas sombras. Eu, pelas sombras,
com as minhas perguntas.
Para quê? Para quê? Rodas tontas,
em campos de areias longas
e de nuvens muitas. 


(Autora: Cecília Meireles)

Ouvir Estrelas


"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".

(Autor: Olavo Bilac)

Duas Almas



Ó tu que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
Entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
Vives sozinha sempre, e nunca foste amada...

A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
E a minha alcova tem a tepidez de um ninho,
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
Se banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
Essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
Podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha.
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha... 

(Autor: Alceu Wamosy)

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Fumo



Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...

(Autora: Florbela Espanca)

Fim de Festa


Se quem você ama vive de ameaças,
A abandonar-te, deixar-te, coisa assim!
E usa sempre isso pra fazer trapaças,
Falando em constância de um provável fim.

Se quem você ama vive de pirraças,
Apenas pra enervar-te ou algo mais alem
E às vezes se desmancha em graças
Fazendo-te inferior a outro alguém.

Se quem você ama, só te vê defeitos
Questionando sempre seus conceitos
E nem mais pedindo tua opinião.

Então se acabou!... Fim!... Final de festa...
Recolha o pouco orgulho que te resta,
E procure abrigo noutro coração.

(Autor: Jenario de Fatima)

Anjos especiais



anjos
Que chegam
Voando silenciosos
Mal se ouve
O barulho das asas.
Há anjos
Mais espalhafatosos
Se esbarram pra todo lado
Fazendo graça...
Há anjos que choram
por quase nada
Há anjos que riem
de quase tudo.
Mas todos são
anjos especiais
Enviados do Éden
Pra nos darem paz
E nos protegem
com seus escudos...
São anjos assim que dão
esperança ao mundo.
Você é um deles!
Por isso jamais se vá!

(Autora: Sirlei L. Passolongo)

Boa Tarde!

A Primavera



Primavera que chegaste
Quando viste gostaste...
Que belas são as flores,
Que trouxeste com cores.
Bom dia a todos, com o sol a brilhar
Os passarinhos
a chilrear.
O vento a abanar
E as árvores a sussurrar.
O sol a luzir,
E o orvalho a cair
As andorinhas a passear,
E as crianças a brincar.
Os campos perfumados,
Os céus azulados.
Os seres da terra
bem animados,
E a Primavera a ter cuidados.

Isto tudo é Primavera!

 (Autora: Alisia)

No País da Primavera




No País da Primavera
Vivia uma borboleta,
Pinta branca, pinta preta,
E que linda que ela era
No País da Primavera!

Voava pelo céu fora,
Ao lado dos passarinhos
Que construíam seus ninhos.
Logo que rompia a aurora
Voava pelo céu fora.

Muito leve e graciosa
Conversava com as flores:
Dálias, túlipas, amores.
E dormia numa rosa,
Muito leve e graciosa.

Passando rios e serras
Lembrou-se a borboleta,
Pinta branca, pinta preta,
De descobrir novas terras
Passando rios e serras.

O País da Primavera
Deixou para trás voando.
E, de saudades chorando, 
Nunca mais foi o que era
O País da Primavera.

(Autora: Fernanda Montenegro)

Os Animais e Você


As abelhas fazem o mel,
Os besouros fazem seu papel,
A cigarra está sempre a cantar,
E a aranha é mestre no tear...

Mas você o que faz?
Mas você o que faz?

Vagalumes a iluminar...
Gafanhotos a nos encatar...
E a fromiga sempre a trabalhar.

O sapinho a coaxar,
A minhoca, no buraquinho a pensar...
As borboletas vive a voar,
E a joaninha na folhinha a enfeitar.

Mas você o que faz?
E você o que faz?
Deixe nossos jardim em paz!

(Autor Desconhecido)

As Flores da Primavera



Neste entardecer tão belo...
Entre todas as flores...
Existe uma rosa amarela...
Que vem ressurgindo...
Com a primavera...
Trazendo consigo...
Seu delicado perfume...
Assim como esperanças...
E oportunidades...
Para novas amizades...
A primavera é tão bela...
Porque traz com ela...
Todas as flores e aromas...
Revitalizando a inquietude...
De todos os corações...
As rosas colorem o amor ...
As vermelhas exalam paixão...
As amarelas trazem magia e a sedução...
As brancas com sua brandura...
Trazem paz para os corações...

(Autora: Sura Mota)

Ótima Quinta-Feira!

Bom Dia!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Boa Noite!

A Canção Desesperada


Tua lembrança emerge da noite em que estou.
O rio junta ao mar seu lamento obstinado.

Abandonado como os portos na alvorada.
É a hora de partir, oh abandonado!

Sobre o meu coração chovem frias corolas.
Oh sentina de escombros, feroz cova de náufragos!

Em ti se acumularam as guerras e os vôos.
De ti alçaram asas os pássaros do canto.

Ah, tudo devoraste como a fria distância.
Como mar, como o tempo. Tudo em ti foi naufrágio!

Era o momento alegre do assalto e do beijo.
Era a hora do assombro que ardia como um facho.

Angústia de piloto, fúria de búzio cego,
turva embriaguez de amor, tudo em ti foi naufrágio!

Minha infância de névoa, de alma alada e ferida.
Descobridor perdido, tudo em ti foi naufrágio!

Eu fiz retroceder a muralha de sombra,
e caminhei além do desejo e do ato.

Oh carne, carne minha, mulher que amo e perdi,
a ti, nesta hora úmida, evoco e elevo o canto.

Como um vaso abrigaste a infinita ternura,
e o esquecimento infindo te partiu como a um vaso.

Era a negra, era a negra soledade das ilhas,
e ali me receberam, mulher de amor, teus braços.

Era a sede, era a fome, e foste tu o fruto.
Era o luto, as ruínas, e tu foste o milagre.

Ah mulher, não sei como tu pudeste conter-me
na terra de tua alma e na cruz de teus braços!

Meu desejo de ti foi o mais tenso e curto,
o mais revolto e ébrio, o mais terrível e ávido.

Cemitério de beijos, inda há fogo em tuas tumbas,
ardem ainda as uvas bicadas pelos pássaros.

Oh a boca mordida, oh os beijados membros,
oh os famintos dentes, oh os corpos trançados.

Oh, a cópula louca de esperança e esforço,
em que nos enlaçamos e nos desesperamos.

E a ternura leve como a água e o trigo.
E a palavra apenas começada nos lábios.

Foi esse o meu destino: nele foi meu anseio
e caiu meu anseio, tudo em ti foi naufrágio!

De queda em queda ainda flamejaste e cantaste.
De pé qual um marujo sobre a proa de um barco.

Ainda floriste em cantos, rompeste correntezas.
Oh sentina de escombros, poço aberto e amargo.

Pálido búzio cego, fundeiro desditoso,
descobridor perdido, tudo em ti foi naufrágio!

É a hora de partir, a dura e fria hora
pela noite sujeita a todos os horários.

O cinturão ruidoso do mar aperta a costa.
Surgem frias estrelas, emigram negros pássaros.

Abandonado como os portos na alvorada.
Somente a sombra trêmula se contorce em meus braços.

Ah, mais do que isso tudo. Ah, mais do que isso tudo.
É hora de partir. Oh abandonado!

(Autor: Pablo Neruda - Tradução de Domingos Carvalho da Silva)