UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Domínio Régio



Investiguei a Grécia em Platão e em Homero.
Vi Sócrates beber a taça de cicuta...
Depois passei a Roma e analisei de Nero
Na boca de Petrônio essa face corrupta.

Conheci Santo Anselmo e São Tomás, Lutero,
Estudei de Voltaire a inteligência arguta
E finalmente andei como se fosse Asvero
Pela Ciência e a História em requintada luta...

Mas a Arte é que me impõe o seu domínio régio
E é por isso que adoro a mão de Tintoretto
E a sublime palheta e o pincel de Correggio...

E é por isso que eu amo o verso alexandrino
E burilo, Mulher, este pobre soneto
Inspirado a pensar em teu perfil divino.

(Autor: Jorge de Lima)

Nenhum comentário: