UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

No País da Primavera




No País da Primavera
Vivia uma borboleta,
Pinta branca, pinta preta,
E que linda que ela era
No País da Primavera!

Voava pelo céu fora,
Ao lado dos passarinhos
Que construíam seus ninhos.
Logo que rompia a aurora
Voava pelo céu fora.

Muito leve e graciosa
Conversava com as flores:
Dálias, túlipas, amores.
E dormia numa rosa,
Muito leve e graciosa.

Passando rios e serras
Lembrou-se a borboleta,
Pinta branca, pinta preta,
De descobrir novas terras
Passando rios e serras.

O País da Primavera
Deixou para trás voando.
E, de saudades chorando, 
Nunca mais foi o que era
O País da Primavera.

(Autora: Fernanda Montenegro)

Nenhum comentário: