UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Uma Tarde


Banho os pés em águas derramadas
na tarde em que você chorou em mim.
De todos os seus líquidos diários
só me faltava sentir suas lágrimas...
Sobrevivo agora de vento e escuro,
de muros, sonos, torpores, das tinas
com seu choro, suor, tanto esporro.
Largo as estrelas,
recordo resoluta
os vapores sentimentais liberados
naquele exato momento do adultério:
você partindo, o Morrer chegando... 

(Autora: Helga Holtz)

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