UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ritmo Eterno




Abro as asas da Vida à Vida
que há lá fora.
Olha... Um sorriso da alma!
- Um sorriso da aurora!
e Deus - ou Bem! ou Mal - é Deus
cantando em mim,
Que Deus é tu,
sou eu - a Natureza assim.

Árvore! boa ou má,
os frutos que darás
sinto-os sabendo em nós,
em mim, árvore, estás.
E o sol, de cujo olhar
meu pensamento inundo,
Casa multiplicando as asas deste
mundo...

Oh, braços para a Vida!
Oh, vida para amar!
Sendo uma onda do mar,
dou-me ilusão de um mar...
Alvor, turquesa, ondula a matéria...
É veludo,

É minh’alma, é teu seio,
e um firmamento mudo;
Mas, do ritmo da Terra,
és um ritmo do amor?
Homem!
Ouve a teus pés a Natureza em flor!

(Autor: Pedro Militão Kilkerry)

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