UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Grande Sertão: Veredas



A lembrança da vida da gente 
se guarda em trechos diversos, 
cada um com seu signo e sentimento,
uns com os outros acho que nem se misturam. 
Contar seguido, alinhavado, 
só mesmo sendo as coisas de rasa importância. 
De cada vivimento que eu real tive, 
de alegria forte ou pesar, 
cada vez daquela hoje vejo que eu era 
como se fosse diferente pessoa. 
Sucedido, desgovernado. 
Assim eu acho, assim eu conto [...] 
Tem horas antigas que ficaram muito mais perto 
da gente do que outras, de recente data.

(Autor: Guimarães Rosa)

Nenhum comentário: