UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Flores para uma pessoa especial...

Mil beijos!

Amiga...

Que saudade!

Feliz Quinta-Feira!

Bom Dia!

Entardecer

Sinto a noite chegando
E sei que ainda não fiz nada
Do que vim fazer aqui

Tenho aqui milhares de palavras
A espera de serem ditas
Energia explodindo em meu corpo
Pela tensão de coisas
Na eminência de serem feitas
Tenho uma urgência
Uma ânsia
Que sei que não me deixará dormir

O sol se esconde
E rompe dentro de mim
O arrependimento


De ter calado quando deveria ter falado
Ter deixado as lágrimas correrem pelos olhos
Quando deveria tê-las deixado vazar pela boca
Ter desistido quando deveria ter insistido
Ter mudado lá atrás os atalhos do caminho

Sei que deveria ter feito bem mais
Sei que poderia ter feito tudo melhor...
Mas a noite chega;
Encerra-se mais um dia

Amanhã!...
Amanhã
É mais um dia pra acertar
Com certeza: Não cometerei mais os mesmos erros!

(Autora: Victtoria Rossini)

Extremo-Oriente

A vida é uma flor que eu mal aspiro,
pois todo o aroma é pérfido, no fundo.
Numa ilha ideal vivo em retiro,
longe dos homens vãos, fora do mundo.

São finas porcelanas delicadas
os meus prazeres, em que toco apenas.
E do meu chá nas espirais levadas,
em ondas aromais, vão se me as penas ...

Passo os dias a olhar, pela janela
do quiosque encantado onde me abrigo,
rios de ouro em paisagens de aquarela.

E, poeta real nas vestes e etiquetas,
faço, com o abano do meu leque antigo,
voarem meus sonhos – como borboletas ...

(Autor: Onestaldo de Pennafort)

Saudade

 Saudade é a imagem das recordações...
De luz acesa, crepitante chama
Que aquece a alma e gera evocações
E sem querer o desengano engana.

Saudade é um verso feito de emoções...
Acre perfume que a doçura emana
Torpor que entrando em nossos corações
Quanto mais embriaga, mais inflama...

Doce abandono... Ausência merencória...
De um passado distante a viva história
Que em nós conserva uma lembrança pura.

Saudade é o silvo agudo de um lamento
Que escutamos no perpassar do tempo
Como sendo delícia e amargura.

(Autora: Bernardina Vilar)

Há sol na rua

Há sol na rua
Gosto do sol mas não da rua
Portanto fico em casa
Esperando que o mundo venha
Com suas torres douradas
E suas cascatas brancas
Com suas vozes de lágrimas
E as canções das pessoas alegres
Ou pagas para cantar
E à noitinha chega um momento
Em que a rua se torna
outra coisa
E desaparece sob a plumagem
De noite repleta de talvez
E dos sonhos dos que estão mortos
Então desço à rua
Que se estende até a aurora
Bem perto, uma fumaça se espreguiça
E caminho em meio à água seca
Água áspera da noite fresca
O sol não demora a voltar.

(Autor: Boris Vian - Tradução de Ruy Proença)

Basta...

basta
nada quero mais da morte
nada quero mais da dor ou sombras basta
meu coração é esplêndido como uma palavra

meu coração se tornou belo como o sol
que sai voa canta meu coração
é desde cedo um passarinho
e depois é o teu nome

teu nome se eleva todas as manhãs
esquenta o mundo e declina
solitário em meu coração
sol em meu coração.

(Juan Gelman - Tradução de Antonio Miranda)

O Maná da Vida

Num mar de dores te afogaste
não sabes tu, que são elas que te mantém
como uma energia, uma força do além
sacia tua sede nas lágrimas que escoaste

de teus olhos que em contraste
com o feio, se eterniza e brilha
como um nascer de um filho ou uma filha
são tesouro que por toda vida caçaste

não fuja da madureza
pois as dores estão em toda parte
e são símbolos da nobreza
que moldam o objeto de arte

até as rosas da pureza
tem espinhos em sua carne
para que o egoísmo da realeza
não revele em seu caule.

(Autor: Henrique Rodrigues Soares)

Sobre a areia

Sonho – sonho de amor! Suprema graça,
Que, apenas se oferece, já se esquiva.
Mal daquele que estende as mãos e o abraça
Numa forma terrena e relativa!

O homem, que passa, como tudo passa,
Busca o ideal em que viva e sobreviva:
Tal o efêmero floco de fumaça
Desenha uma figura fugitiva...

Mostras-me o céu; o céu, com que me acenas,
De tão longínquo, desespera e cansa,
De tão remoto, o coração dissuade.

Para minha alma és uma sombra, apenas...
Menos dói que uma sombra: - uma lembrança...
Mais do que uma lembrança: - uma saudade...

(Autor: Heitor Lima)

O Poeta é...

O poeta é um sonhador
Um pensador
Um introspectivo
Um observador
Um imaginário
Um admirador
Um contemplador
Um crítico
Um sensível

O poeta é...
Um Ser complexo
De sentimentos confusos
Um desbravador de corações
Interprete das emoções
Um tímido
Extrovertido no manuseio das palavras.

O poeta é...
Uma pessoa de palavras fáceis
Delicadas, confusas, amáveis
Contagiantes, de curtas frases
Com reflexões penetrantes.

O poeta é...
Um homem além de seu tempo
Um utópico
Um boêmio, nostálgico
Amante da noite e do dia
Um arquiteto das palavras
Um decifrador dos sentimentos
Especulador dos pensamentos.
O poeta é...
 
(Autor: Ataíde Lemos)

Mulher

O homem descrever a mulher
É uma ironia
É uma enorme covardia.
Porque a mulher é sua metade
Da sua vida ela é parte.
É o ar que ele respira
É a noite, é o dia
É fonte transbordante
De carinho e alegria

Para o homem a mulher
É a razão de seu existir.
É simbolizada pela flor
Devido a sensibilidade
A sua delicadeza
E rara beleza
Qual perfume é impregnado
Em sua alma, no seu viver.

Ah! Não dá para dizer
O que representa a mulher
Para o homem
Pois é um grande mistério
Que até Deus em sua criação
Percebeu tal inclinação
Ao conceber a mulher
Tirou parte do homem
Dando ele para ela
E nos dois um só Ser.

(Autor: Ataíde Lemos)

Vesperal

 Hora de benção, de perdão, de prece...
E que, no entanto, é das que mais afligem...
Entardecer... O azul empalidece
como um rosto na agônica vertigem...

Em breve a noite vai colher a messe
das estrelas... E da cerúlea origem
a alma do vago sobre as almas desce
e as saudades para elas se dirigem...

Morreu da luz o fulgurante império...
O poente, como as ilusões perdidas,
os nossos sonhos vãos, se fez cinéreo...

E sobre tantas ruínas, quando enoite,
virão chorar, nas horas esquecidas,
as cristalinas lágrimas da noite...

(Autor: José Lannes)