UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Há sol na rua

Há sol na rua
Gosto do sol mas não da rua
Portanto fico em casa
Esperando que o mundo venha
Com suas torres douradas
E suas cascatas brancas
Com suas vozes de lágrimas
E as canções das pessoas alegres
Ou pagas para cantar
E à noitinha chega um momento
Em que a rua se torna
outra coisa
E desaparece sob a plumagem
De noite repleta de talvez
E dos sonhos dos que estão mortos
Então desço à rua
Que se estende até a aurora
Bem perto, uma fumaça se espreguiça
E caminho em meio à água seca
Água áspera da noite fresca
O sol não demora a voltar.

(Autor: Boris Vian - Tradução de Ruy Proença)

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