UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sobre a areia

Sonho – sonho de amor! Suprema graça,
Que, apenas se oferece, já se esquiva.
Mal daquele que estende as mãos e o abraça
Numa forma terrena e relativa!

O homem, que passa, como tudo passa,
Busca o ideal em que viva e sobreviva:
Tal o efêmero floco de fumaça
Desenha uma figura fugitiva...

Mostras-me o céu; o céu, com que me acenas,
De tão longínquo, desespera e cansa,
De tão remoto, o coração dissuade.

Para minha alma és uma sombra, apenas...
Menos dói que uma sombra: - uma lembrança...
Mais do que uma lembrança: - uma saudade...

(Autor: Heitor Lima)

Nenhum comentário: