UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Extremo-Oriente

A vida é uma flor que eu mal aspiro,
pois todo o aroma é pérfido, no fundo.
Numa ilha ideal vivo em retiro,
longe dos homens vãos, fora do mundo.

São finas porcelanas delicadas
os meus prazeres, em que toco apenas.
E do meu chá nas espirais levadas,
em ondas aromais, vão se me as penas ...

Passo os dias a olhar, pela janela
do quiosque encantado onde me abrigo,
rios de ouro em paisagens de aquarela.

E, poeta real nas vestes e etiquetas,
faço, com o abano do meu leque antigo,
voarem meus sonhos – como borboletas ...

(Autor: Onestaldo de Pennafort)

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