UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Começo de novo

Jogo a minha rede no mar da vida e às vezes, 
quando a recolho, descubro que ela retorna vazia. 
Não há como não me entristecer e não há como desistir. 
Deixo a lágrima correr, vinda das ondas que me renovam,
por dentro, em silêncio: 
dor que não verte, envenena.
O coração marejado, arrumo, como posso, os meus sentimentos. 
Passo a limpo os meus sonhos. 
Ajeito, da melhor forma que sei, a força que me move.
Guardo a minha rede e deixo o dia dormir.

Com toda a tristeza pelas redes que voltam vazias, 
sou corajosa o bastante para não me acostumar com essa ideia. 
Se gente não fosse feita pra ser feliz, 
Deus não teria caprichado tanto nos detalhes.
Perseverança não é somente acreditar na própria rede. 
Perseverança é não deixar de crer na capacidade de renovação das águas.

Hoje, o dia pode não ter sido bom, mas amanhã será outro mar. 
E eu estarei lá na beira da praia de novo.

(Autora: Ana Jácomo)

Nenhum comentário: