UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

LIVRO: Jane Eyre


Category:Books
Genre: Literature & Fiction
Author:Charlotte Brontë

Sinopse: Jane Eyre é uma obra-prima da literatura inglesa, a autobiografia ficcionada de uma jovem que, depois de uma infância e adolescência desprovidas de afeto, se torna preceptora em Thornfield Hall e se apaixona pelo seu proprietário, Mr. Rochester. Plenamente correspondida nos seus sentimentos, Jane julga ter encontrado o amor por que ansiara toda a vida, mas Thornfield Hall esconde um segredo tenebroso que ameaça ensombrar a sua felicidade. Numa atmosfera misteriosa e inesquecível, acompanhamos esta heroína de espírito puro e apaixonado, que trava uma luta interior constante para se manter fiel às suas convicções e a si própria.

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Esta obra, um verdadeiro clássico da literatura inglesa, tem, ao longo dos anos despertado inúmeras paixões e ódios.

Muitos consideram-na sublime, outros simplesmente a olham de lado e a apelidam de "aborrecida". Mas como em tudo na vida, não há como experimentarmos nós próprios para sabermos exatamente o que dizer.

Antes de mais, tenho que frisar o quão admirada fico (a palavra que aqui queria utilizar mesmo era "overwhelmed") sempre que leio um livro como este, publicado pela primeira vez no século XIX e cuja leitura foi sem dúvida, e acima de tudo, um prazer. Existem coisas que são realmente intemporais.

"Jane Eyre" é supostamente uma autobiografia ficcionada, ou seja, a autora pegou na sua própria vida e contou-a alterando este ou aquele fato. Talvez por isso tenha sido tão fácil para ela transmitir os sentimentos de Jane, as suas dúvidas e problemas, os seus desejos e ideais, tanto enquanto criança carente de afeto, como enquanto jovem preceptora numa casa desconhecida.

Mas o que realmente salta à vista é realmente o crescimento e amadurecimento da personagem, que se mantém fiel às suas convicções, mesmo que estas a levem para um caminho de sofrimento e dor.

É uma obra que nos apresenta claramente qual o papel da mulher na sociedade inglesa naquela época, mas que ao mesmo tempo nos mostra uma Jane inteligente e insubmissa, resistente ao capricho masculino, querendo ser reconhecida como igual numa relação que tem por base o amor. E isto é realmente algo extraordinário para a época!

Para além da história em si, a forma como é narrada é simplesmente sublime. Charlotte Brontë consegue agarrar o leitor e envolvê-lo na narrativa, praticamente o obrigando a tomar um partido - o de Jane, como é óbvio.

Gostei particularmente da forma como ela consegue que a natureza que rodeia Jane consiga espelhar de forma tão clara os sentimentos que a assolam. A introdução dos elementos mais negros na história fez-me de algum modo lembrar a inquietação que também encontrei na obra da sua irmã, Emily Brontë (O Monte dos Vendavais), que na verdade se trata do elemento gótico típico na literatura da época.

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