UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Só um dia


Um dia ... somente um dia...
Um dia, como antes fez-se depois...
Um dia como ontem só mais um dia...
sentimentos qual estandartes sobre o chão...
ainda lembrando a batalha que travamos contra
o tempo...

Onde os olhos já não podem ver...
Onde o orgulho já não pode sentir...
Um dia...
nada mais que um dia...
um simples dia...
Um dia de quimeras fantasias erguidas ao vento...
expostas ao tempo deste mais um dia...

Onde a vitória do destino corre em busca de aplausos!
A derrota do viver, esconde-se de si própria...
como se estivéssemos diante do findar de mais um dia...
Em que tempo sonhas agora ...
de que esperança teu coração se alimenta ...
por qual trilha te deixaras levar ...
em que precipício te verás despencar aos rasgos desta
paixão?...

Grandes são os sentidos da razão...
maiores os sentimentos do coração...
todos os dias para pensar...
na mesma busca do que não esta...
por todos os dias a esperar pelo que não há...

Um dia se faz entre nós...
onde não houvera mais brilho...
Onde por caminhos fiz versos...
escrevi poemas...
enigma dos meus passo, mistério do meu encontrar
em mais um dia de solidão...
Que de silêncio me envolve o despertar; e qual sombras
de antes em um dia depois...
dentre a ilusória paixão do iludido coração, 

entre um dia e outro...
entre a injustiça do não estar na sentença do não perder,
de um dia, somente um dia...
um dia, nada mais que um dia...

De ver-se transformar o sorriso em pranto...
a felicidade em saudades ...
ver-se da luz, a escuridão... do sol, a tempestade, em
um único dia...

Que entre versos perdidos, o poema ausente, da alma
já cansada de tanto esperar...
Que um dia contempla, que do dia indaga, o que um
dia foi; este dia onde estará?

No pesar que sufoca, do sentir que se afoga, quando dos
sentimentos enterrados no chão, qual raízes de palavras
mudas; de frases caladas, naufragas ao pranto da solidão...
Por um dia, não mais que um dia...
e farei-se despertar à minha fantasia...
desta noite ao meio dia...

Vi desmanchar-se minhas esperas...
romperem-se os meus sonhos, desfazerem-se
minhas alegrias...
neste simples dia...
Um dia, mais um dia, quão interminável dia há se
enfrentar na espera de um haver...

(Autora: Sonia Aly Salem)

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