UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Ouvir


É preciso saber ouvir mais com o 
coração do que com os ouvidos.
O coração possui canais auditivos bem mais
sensíveis e dispostos a ouvir e entender.
É preciso saber ouvir as palavras entreditas, 
 mais do que as que foram claramente ditas.
Ouvir as palavras que restam na penumbra.
Ouvir não só os lábios, mas os olhos, 
os gestos, os passos - que falam muito,
 e falam sempre.
Bem-aventurados são os que não 
ouvem só com os ouvidos.
Bem-aventurados são os que podem contar 
com quem não tem só ouvidos para ouvir.

(Autor: Carlos P. Novaes)

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