UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 27 de agosto de 2011

Evidências




Tocadas pelo vento
sombras vagueiam indóceis
pelos vértices d'alma.

camarinhas
salgam a face do silêncio
estrangulam-se entre o medo
e a angústia

Arde o pensamento.
Células,
fibras e nervos

em convulsão misturam-se às idéias
arrebatam-as do rés do chão
já não há hipoxia

não existem mais estilhaços
atrás das couraças
nem no fundo do mar

O vento soprou do exílio
as palavras.

(Autora: Andréa Motta)

Nenhum comentário: