UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Saber e Sabor


Simplesmente, não sei:
embora raras vezes eu já consiga entrar nele,
sinto que este é um dos lugares
de maior descanso, de maior abertura,
de maior oportunidade, para onde a liberdade de vez
em quando me traz.

A vida é tecida com os fios disponíveis de cada agora.
De cada respiro. De cada ação. De cada acontecimento.
De cada sabor. É essa tecelã que olha para você neste
instante e me olha também.

O que ainda não veio, quem sabe? Eu não sei.

Sabor é o presente. Saber é quando a gente desembrulha.

(Autora: Ana Jácomo)

Nenhum comentário: