UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 6 de agosto de 2011

Cidade sem Portas

Uma cidade sem portas
em que o amor circule vasto
sem previsão de caminho
distribuído por igual

 em que o pão navegue cedo
para as fomes entreabertas
sem ver números ou faces
distribuído por igual.
Cidade assim planejada
no chão irreal do sonho
poderá brilhar ao sol
conquanto assim o desejes

conquanto assim o desejem
os rostos que voltam à tarde
para banhar-se na água
e aceitar o fim da tarde
e ver amanhã o dia
recompor-se nos telhados
com a mesma carga de dor
e o mesmo peso de suor.

Quem disse que a vida é sempre
um mesmo caminho à noite?
Uma via de segredos
e outra de chaga aberta?
As coisas que te rodeiam
são menos elas que tu
basta que nasças de novo
e plasmes de novo a vida.

(Autor: Roldão Mendes Roda)

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