UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Saudades e Lembranças

...podem parecer sinônimos.
Idéia igual, mas diferente no sentir.
Lembrança é da memória, saudade é da alma.
Muitas lembranças, poucas saudades.
Lembranças surgem com um cheiro,
uma música, uma palavra.
Saudade surge sozinha,
emerge do fundo do peito
onde é guardada com carinho.
Lembrança pode ser boa, mas quando não é,
pode-se afastá-la com outra lembrança ou
convocar outro pensamento para o lugar,
ligando a TV ou lendo o jornal.
Saudade é sempre boa, mesmo quando dói,
e não se apaga, mesmo que outra pessoa
tente ocupar o lugar vazio.
Ela pode coexistir com um novo amor,
sem machucá-lo.
Lembrança é de algo real, de um lugar,
uma época, uma pessoa.
Saudade pode ser do que não houve, de uma
possibilidade, de lábios jamais tocados.
Lembrança pode ser contada, medida,
localizada, e com algum esforço,
pode até ser calculada com uma fórmula
matemática, ao gosto dos engenheiros.
Saudade é dos poetas,
é pautada em rimas e melodias;
vontade de ver outra pessoa, segundo
os poetas, teria outro nome, seria uma
saudade com tempero, eu acho.
Lembrança pode ser sem som, pode não doer.
Saudade jamais é sem som.
Se ela não vier com música de fundo,
a gente coloca, só para ficar mais bonita,
mais gostosa de sentir, para preencher
mais a alma vazia.
Lembrança vence a morte,
mas conforma-se com a ausência,
respeita convenções.
Saudade ignora a morte, vence distâncias,
barreiras e preconceitos.
Lembrança aceita nosso comando,
vai e volta quando queremos.
Saudade é irreverente,
independente e auto suficiente.
Gosto mais da saudade! E você?

(Autor Desconhecido)

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