UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Sofre e Confia

Por mais intensa a mágoa que te oprime,
Sob a aflição que ruge, longe ou perto,
Na tormenta, na dor, no lar deserto,
Guarda contigo a paz do amor sublime.
Em tua própria cruz, clara, se arrime
A fé suprema de teu passo incerto...
Chora, guardando o espírito liberto
De todo arrastamento à treva e ao crime.
Sorve o pranto na taça da amargura,
Sob a flagelação da noite escura,
Mas não te inclines para a fuga inglória.
Sofre e confia valorosamente,
Que amanhã brilhará no céu ridente
O teu dia de luz e de vitória.

(Autor Desconhecido)

Nenhum comentário: