UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Que é Deus?

Perguntei às ondas do mar: que é Deus?
E eles me disseram:
Deus é o mar e nós somos criaturas dele.

Perguntei a cada uma das sete cores do arco-íris:
que é Deus?
E as cores me responderam:
Deus é a luz incolor e nós somos filhos dela.

Perguntei a todos os ruídos do Universo:
que é Deus?
E eles exclamaram:
Deus é o grande silêncio que nos gerou.

Perguntei a todas as formas da Terra,
desde o triângulo até os organismos
das plantas, dos insetos, das aves,
dos peixes e de todos os animais:
que é Deus?
E eles me disseram:
Deus é o amor, que nos deu forma.

Interroguei às trevas da meia-noite:
que é Deus?
E as trevas noturnas murmuraram:
Deus é o sol e nós somos prole dele.

Indaguei a todas as plenitudes do Cosmos:
que é Deus?
E as plenitudes me responderam:
Deus é o eterno vácuo, o nirvana,
o nada que produz os nossos algos.

Perguntei a todos os seres conscientes do mundo:
que é Deus?
E todos concordaram:
Deus é o infinito consciente de cujas profundezas
brotaram os nossos conscientes finitos.

E depois que todas as criaturas responderam
as minhas perguntas, exclamei estupefato:
como é que o negativo produz o positivo?
E elas, em um coro uníssimo, replicaram:
"o negativo de Deus, é a negação das
quantidades, do efeito, dos finitos,
mas é o positivo da qualidade,
a afirmação da causa, do infinito,
o grande todo, o único um;

Deus é a inconcebível essência que
transforma todas as existências concebíveis
e habita em cada uma delas;
Deus é o infinito transcendente imanente
nos finitos.

E ante essa mensagem no Universo,
fiz calar todos os ruídos analíticos do intelecto
e minha alma se abismou no profundo silêncio
da intuição espiritual.

E compreendi...
Compreendi assim como
se compreende com a alma...
Compreendi a voz do silêncio.

(Autor Desconhecido)

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