UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Capítulo

Antes de começar um capítulo novo,
é preciso terminar o antigo:
diga a si mesmo que o que passou,
jamais voltará.
Lembre se de que houve uma época
em que podia viver sem aquilo –
nada é insubstituível,
um hábito não é uma necessidade.
Encerrando ciclos.
Não por causa do orgulho,
por incapacidade,
ou por soberba,
mas porque simplesmente aquilo
já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta,
mude o disco,
limpe a casa,
sacuda a poeira.
(Autor: Fernando Pessoa)

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