Deixei passar a ronda lenta
de muitas luas,
mas a minha tristeza não diminuiu...
Longe, longe,
o céu agora é deserto,
como se houvesse morrido,
como se houvesse acabado...
Sozinha, no meu luto,
ergo as mãos,
cheias de lágrimas,
em oferenda...
Eleito, ó Eleito,
não me vês,
não me ouves,
não me queres!...
E vais deixar-me assim
toda a vida...
Oh! Tem pena, ao menos,
das aves,
que podem vir beber
nas minhas mãos,
e endoidecer depois,
pelos ares,
da tristeza que me endoidece...
Eleito, ó Eleito,
deixei passar a ronda lenta
de muitas luas,
e a minha tristeza não diminuiu!...
(Autora: Cecília Meireles)
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