UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Novo Poema da Tristeza


SEGUNDA PARTE

Deixei passar a ronda lenta
de muitas luas,
mas a minha tristeza não diminuiu...
Longe, longe,
o céu agora é deserto,
como se houvesse morrido,
como se houvesse acabado...
Sozinha, no meu luto,
ergo as mãos,
cheias de lágrimas,
em oferenda...
Eleito, ó Eleito,
não me vês,
não me ouves,
não me queres!...
E vais deixar-me assim
toda a vida...
Oh! Tem pena, ao menos,
das aves,
que podem vir beber
nas minhas mãos,
e endoidecer depois,
pelos ares,
da tristeza que me endoidece...
Eleito, ó Eleito,
deixei passar a ronda lenta
de muitas luas,
e a minha tristeza não diminuiu!...

(Autora: Cecília Meireles)

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