UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 27 de maio de 2012

Ritmo



Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco.

Na pia
a menininha escova os dentes
escova os dentes
escova os dentes.

No arroio
a lavadeira bate roupa
bate roupa
bate roupa.

até que enfim
se desenrola
toda a corda
e o mundo gira imóvel como um pião!

(Autor: Mário Quintana)

Nenhum comentário: