UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 16 de maio de 2012

LIVRO: Sob um céu de mármore branco


Category:Books
Genre: Literature & Fiction
Author:John Shors

Sinopse: Em 1632, o imperador do Hindustão, Shah Jahan, consumido pela dor por morte da Imperatriz, Mumtaz Mahal, ordenou a construção de um grande mausoléu que simbolizasse a grandeza do seu amor. Contra cenários de fundo de inimaginável riqueza e poder, de rivalidades fratricidas e de cruel despotismo, a princesa Jahanara narra a extraordinária história da edificação do Taj Mahal, descrevendo a sua própria vida como agente da sua criação e testemunha dos eventos fatídicos que rodearam a sua conclusão.

Como princesa e mãe, como irmã e filha, Jahanara depara-se continuamente com escolhas impossíveis e descobre o verdadeiro significado da sua herança régia. Em Sob um Céu de Mármore Branco, John Shors recria um Hindustão histórico, transbordando de intriga empolgante e encerrando a verdade secreta do Taj Mahal, para um mundo que continua a vergar-se perante a sua eterna majestade.

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Sob um Céu de Mármore Branco é um livro lindíssimo! É daquelas leituras que nos enleva para um espaço etéreo além das suas páginas. A Índia com as suas cores, sabores e aromas entraram, sem pedir licença, no meu imaginário. A construção do Taj Mahal é fantasticamente intercalada com as vidas das personagens.

Cada pedra e cada pintura deste mausoléu são o espelho de um amor eterno e de uma nova paixão que irá desabrochar sob esta maravilha arquitetônica. John Shors circula pelo palácio, pelo harém e pelo quotidiano enriquecendo o que podia ser uma simples história de amor. Transforma-a numa história grandiosa.

Sendo o escritor do sexo masculino, acho formidável o fato de a sua protagonista, Jaharana, filha do Imperador, ser tão verosímil como uma heroína determinada, leal e inteligente. A voz de Jaharana é tão verdadeira que enterneci-me com as suas palavras como se fosse uma criança escutando um conto-de-fadas.

O livro também é muito bem equilibrado pois, se há momentos enternecedores também há guerra, violência e morte. A princesa vive numa corte multicultural em que várias ideias se cruzam e várias religiões co-habitam. São diferentes modos de vida que podem coexistir pacificamente ou despoletar uma guerra e Jaharana, uma mulher é ouvida porque, o seu pai preza muito a sua opinião. Os seus dois irmãos não podiam ser mais diferentes: Dara é o pensador, o eterno utópico que sonha unir as nações e Aurangzeb é o militar, temido e respeitado pelas hostes inimigas. Porém, o ambiente familiar está longe de ser idílico porque, personalidades tão distintas são incompatíveis à sombra do Trono do Pavão.

Filha e irmã, a personagem principal privilegiou-me com um relato comovente de uma mulher dividida entre o dever e a razão e entre o crer e o ser. A esperança nunca abandona o texto de John Shors mesmo perante a tragédia. É Jaharana, a profeta do escritor, anunciando um futuro, eventualmente melhor.

As personagens secundárias são igualmente cativantes com Isa, Nizam e Ladli a se destacarem. Isa, o maravilhoso cérebro por detrás do Taj Mahal, Nizam, um homem marcado pela atrocidade da escravatura e Ladli, a amiga capaz de tudo pela segurança dos seus são condimentos indispensáveis neste êxtase literário.

Uma obra suave e irresistivelmente exótica (ou não se passasse no Hindustão) que proporciona uma excelente leitura!

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