UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

A ave e o ninho



Por que te assustas, ave singela?
Por que teus olhos fixas em mim?
Eu não pretendo, pobre avezinha,
Levar teu ninho daqui.

Aqui, no oco de pedra dura,
Tranqüila e só te vi ao passar,
E trago flores da planície
Para que adornes teu livre lar.

Porém me olhas e te estremeces
E a asa bates com inquietação,
E te adiantas, resoluta, às vezes,
Com amorosa solicitude.

Porque não sabes até que ponto
Eu a inocência sei respeitar,
Que é, para a alma terna, sagrado
De teus amores o livre lar.

Pobre avezinha! Volta a teu ninho
Enquanto do prado me afasto eu;
Nele minha mão leito fofo
De folhas e flores te preparou.

Mas se tua terna prole futura
Em duro leito olho ao passar,
Com flores e folhas da planície
Deixa que adorne teu livre lar.

(Autor: Salome Ureña de Henríquez - Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

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