UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 26 de maio de 2012

Canção com Parênteses


Meu coração que voava
ficou surpreso:
a boca se fechou, a música
descaiu num tom menor.
Meu corpo que retornava
ao que nunca tinha sido
(senão em nostalgia)
retoma o que sempre fingiu ser.

Ficamos à espera, minha vida e eu,
(sem amargura mas desconcertadas)
de que apagues os parênteses
e voltes, e te permitas
as ternuras, o encanto, as surpresas
que iluminavam (como os meus)
teus próprios dias.

(Autora: Lya Luft)

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