UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O tempo passa


O tempo passa?
Não passa
No abismo do coração.
Lá dentro perdura a graça
Do amor, florindo em canção
O tempo nos aproxima
Cada vez mais, nos reduz

A um só verso e uma rima
De mãos e olhos, na luz
Não há tempo consumido
Nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
De amor e tempo de amar.
O meu tempo, e o teu, amada,
Transcendem qualquer medida.

Além do amor não há nada,
Amar é o sumo da vida.
São mitos de calendário
Tanto o ontem como o agora,
E o teu aniversário
É um nascer toda hora.
E nosso amor, que brotou
Do tempo, não tem idade,
Pois só quem ama escutou
O apelo da eternidade.

(Autor: Carlos Drummond de Andrade)

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