UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 29 de agosto de 2009

Quando o amor acenar





Quando o amor acenar, siga-o,
ainda que por caminhos ásperos e íngremes.
E quando suas asas o envolverem,
renda-se a ele ainda que a lâmina escondida sob suas asas possa feri-lo.
E quando ele falar a você,
acredite no que ele diz, ainda que sua voz possa destroçar seus sonhos, assim como o vento norte devasta o jardim.
Pois, se o amor o coroa, ele também o crucifica.
Se o ajuda a crescer, também o diminui.
Se o faz subir às alturas e acaricia seus ramos mais tenros que tremem ao sol, também o faz descer às raízes e abala a sua ligação com a terra.
Como os feixes de trigo, ele o mantém íntegro.
Debulha-o até deixá-lo nu.
Transforma-o, livrando-o de sua palha.
Tritura-o, até torná-lo branco.
Amassa-o, até deixá-lo macio; e então submete ao fogo para que se transforme em pão no banquete sagrado de Deus.
Todas essas coisas pode o amor fazer para que você conheça os segredos do seu coração, e com esse conhecimento se torne um fragmento do coração da Vida.

(Autor: Gibran Khalil Gibran)

Nenhum comentário: