UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

LIVRO: A Filha da Profecia


Category: Books
Genre: Literature & Fiction
Author: Juliet Marillier

Sinopse: Fainne foi criada numa enseada isolada na costa de Kerry, com uma infância dominada pela solidão. Mas o pai, filho exilado de Sevenwaters, ensina-lhe tudo o que sabe sobre as artes mágicas.

Esta existência pacífica será ameaçada em breve, e a vida de Fainne jamais será a mesma, quando a avó, a temida feiticeira Lady Oonagh, se impõe na sua vida.
Com a perversidade que a caracteriza, a feiticeira conta a Fainne que tem um legado terrível: o sangue de uma linhagem maldita de feiticeiros e foras-da-lei, incutindo nela um sentimento de ódio profundo e, ao mesmo tempo, a execução de uma tarefa que deixa a jovem aterrorizada. Enviada para Sevenwaters, com objetivo de destruí-la, vai usar todos os seus poderes mágicos, para impedir o cumprimento de uma profecia.

***

Uma história impelida pelo amor. Mais do que aquele forte desejo e sentimento entre homem e mulher, aqui falo do amor que transcende o controle do ser humano, sobrepujando o bem e o mal.

Como é característica da autora, Juliet Marillier, tal como Sorcha em A Filha da Floresta e Liadan em O Filho das Sombras, Fainne é uma personagem forte e batalhadora, que colocou aqueles que amava acima de tudo e, por esse amor, machucou, mentiu, sofreu e fez sofrer. Porém, movida por esse mesmo amor, afastou a dúvida que tinha de seu poder e descobriu todo o bem que poderia fazer.

O amor esteve presente em todas as páginas de A Filha da Profecia. Quando Fainne era criança e tinha o ainda menino Darragh como único e melhor amigo e companheiro de brincadeiras, era o amor infante que a fazia enfrentar o inverno à espera do verão e com ele a volta de Darragh; Fainne aprendendo com Ciarán a arte da magia, era por amor ao pai que fazia-o; foi por amor aos animais que libertou-os do farsante na feira; foi pelo amor à sua família de Sevenwaters e seres míticos que enfrentou e conseguiu vencer toda a maldade da avó; e, no final, só pelo amor pode trazer Darragh de volta para a vida, para sua vida.

E todas as maldades que ocorreram, é certo que suas ações eram devido ao fato de ter sido ameaçada pela avó e, perante a ameaça do mal que ela podia infligir a aqueles que ela amava, olha o amor aqui de novo!

Claro, existe também na história o amor belo entre duas pessoas apaixonadas:

Liadan e Bran: "Através da soleira podia ver a minha tia Liadan e um homem que devia ser o Chefe, porque estavam os dois perfeitamente imóveis, abraçados e de olhos fechados, como dois jovens que tivessem descoberto pela primeira vez o amor.

As mãos dele estavam enterradas nos cabelos sedosos dela, que tinham escapado da fita e lhe caíam pelas costas. A testa dela descansava na curva do pescoço dele. Eu tinha a certeza de que nenhum deles estava consciente de outra coisa que não aquele abraço e o bater de ambos os corações. Não conseguia desviar o olhar...

... Nunca pensara que um homem e uma mulher de trinta e cinco anos de idade, ou mais, pudessem possuir tais sentimentos um pelo outro, fazendo com que tudo o mais desaparecesse das suas mentes. Pensava que o amor era uma fantasia, uma ilusão da juventude...

... Era por isso que olhava, sabendo, do fundo do meu coração, que o que estava a ver era tão encantador e contínuo quanto totalmente inesperado. Enchia-me de uma estranha e dolorosa tristeza."

Fainne e Darragh: "— Darragh — disse eu. — Aqui não há nada para ti. Nada senão eu, as aves marinhas e o tempo. Isto não é vida para ti. — De qualquer modo, continuei agarrada à única coisa que tinha; compreendia, agora, que algumas coisas são demasiado preciosas para serem abandonadas.

— Tudo o que sempre desejei foi ter-te a meu lado e a estrada à nossa frente — disse Darragh. — Isto é a mesma coisa.

(...)

— Rapariga tonta — disse Darragh gentilmente. — Nunca percebeste, pois não? Nunca chegaste a perceber como te amo, como te desejo, de tal modo que quase não conseguia impedir-me de te tocar, sabendo que, se começasse não conseguiria parar e com medo de te fazer algo que te assustasse e te fizesse fugir para sempre? Acontece conosco, homens, Caracóis, este querer; mesmo agora... — ele olhou para o próprio corpo nu e de novo para cima — mesmo agora, cheio de frio, sabes...? — E sorriu torcidamente.

(...)

E, juntos, começamos a longa subida para o calor do abrigo; para uma nova vida. Porque parecia que o destino dele era o meu destino e o meu o dele, ali, naquele lugar marginal, naquele lugar onde a terra e o fogo, o ar e a água se encontravam e separavam de novo, doce e misteriosamente, numa dança eterna."

Uma história lindíssima, daquelas que a gente lê sem se cansar, sem necessidade de parar pra comer ou dormir, as horas passam e quando você olha no relógio diz: já passou tanto tempo assim? , pois é, passou e você nem percebeu de tão prazerosa que está a leitura.

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