UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Perseverança

Jogo a minha rede no mar da vida
 e às vezes, quando a recolho, 
descubro que ela retorna vazia. 
Não há como não me entristecer 
e não há como desistir. 
Deixo a lágrima correr, 
vinda das ondas que me renovam,
 por dentro, em silêncio: 
dor que não verte, envenena. 
O coração marejado, arrumo, 
como posso, os meus sentimentos. 
Passo a limpo os meus sonhos. 
Ajeito, da melhor forma que sei, 
a força que me move. 
Guardo a minha rede e deixo o dia dormir.
Com toda a tristeza pelas 
redes que voltam vazias, 
sou corajosa o bastante para não
 me acostumar com essa ideia. 
Se gente não fosse feita pra ser feliz, 
Deus não teria caprichado tanto nos detalhes. 
Perseverança não é somente 
acreditar na própria rede. 
Perseverança é não deixar de crer na 
capacidade de renovação das águas.
Hoje, o dia pode não ter sido bom,
 mas amanhã será outro mar. 
E eu estarei lá na beira da praia de novo. 

(Autora: Ana Jácomo)

Nenhum comentário: