UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Arco-Íris


O coração se aperta.
Nem sabe se foi a lembrança 
de certo cair de tarde
que a memória subtraiu ao tempo, 
ou um reviver de luzes
entre horizonte e nada.
O coração se volta, há luzes ao longe, 
uma cidade aparece,
some-se, já é outra cidade.
Em qual delas habita e se redescobre o menino?
Em qual delas a vida se multiplica, as manhãs renascem,
os caminhos se desenvolvem num atlas inexistente
 e a imaginação arma
o seu mundo de mágicos? Em qual delas
a luz é luz, a sombra é sombra?
Não sabe.
Tantas coisas já se misturaram, 
ou se confundiram no tempo.
Algumas realmente vistas.
Outras apenas sonhadas, ou imaginadas. 
E como agora todas
a distancia se ordenam,
entrelaçam-se, formam,
fundidas, transfiguradas,
um só arco-íris!

(Autor: Emílio Moura)

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