UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 30 de setembro de 2012

Vida Inventada



Inventar horizontes...
Única maneira de suportar a possível perda de rumo nestes
mares aflitos que nos ameaçam todas as manhãs.

Inventar gaivotas...
Única maneira de suportar estas nossas lágrimas
pela dor maior de um céu não azul.

Inventar ondas...
Única maneira de suportar a calmaria que a lucidez nos obriga 

Inventar sol e lua...
Única maneira de suportar estes tempos iguais
que nos enlouquecem com suas diferenças.

Inventar velas...
Única maneira de suportar o espanto dos nossos olhos
refletidos nas águas que acolhem estes restos de naufrágio.

Inventar...
Inventar gaivotas, ondas,
velas, sóis e luas.
E sempre, inventar horizontes
E caso o horizonte nos falhe,
tentar a sobrevivência
e se ela se negar,
inventar um cais em cada lágrima. 
(Autora: Gilia Gerling)

Nenhum comentário: