UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A Partida


Tenho-a presente, como agora, aquela
dura noite da triste despedida;
a aragem levemente arrefecida
do barco enfuna a desfraldada vela.

Distante, como em fundo de aquarela,

some-se a mansa vila adormecida,
e a branda luz dos astros refletida
no rio as águas límpidas estrela.

Cena viva que a mente me descreve,

dos amigos em grupos pelo cais
vozes perpassam num sussurro leve;

trocam-se as doces expressões finais...

E, enquanto os lábios dizem - até breve!
Os corações murmuram - nunca mais!

(Autor:
Silva Ramos)

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