UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Faz de Conta



Faz de conta que é setembro
que setembro sempre espera
pelo amor de que me lembro
se em setembro é primavera.

Faz de conta que é alvorada
com auroras sempre abertas
e que a minha alma fechada
transponha a aurora deserta.

Se meu deserto é sem água
sou meu setembro sem flor.
Flor que rego com a lágrima
dos meus espinhos de amor.

Só faz de conta que lembro
que teu coração me espera
regressar como o setembro
para a tua primavera...

(Autor: Afonso Estebanez)

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