UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Socrática



- O que nos esclarece um enigma interior.
Qual a hora mais esperada?
- A que precede o primeiro encontro.

Qual a luz mais cruel?
- A que vem depois do primeiro desengano.

Qual o verso mais belo?

Qual o benfeitor mais alto?
- O que ao prestar um benefício
consegue que o favorecido
se julgue favorecedor.

Qual o caráter mais mesquinho?
- O que vos recorda os favores prestados.

Qual o maior sossego?
- O do homem
que já não espera nada dos homens.

Qual o bem mais apreciado?
- Aquele que, depois de esgotar a Esperança,
julgávamos já inacessível.

Qual a surpresa mais sublime?
- A daquele que encontra a Deus
dentro de si mesmo.

(Autor: Amado Nervo)

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