UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Antes


Antes que desça a noite,
Imprimir na retina
Os rostos amados,
O sol,
As cores
O céu do outono
E os jardins da primavera.

Inundar de sons
De vozes
E de música eterna
Os ouvidos,
Antes que os atinja

A maré do silêncio.

Conquistar
Os pontos culminantes
Da vida,
Antes que se esgote
O prazo de permanência
Em seu território sagrado.

(Autora: Helena Kolody)

Nenhum comentário: