UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 3 de setembro de 2011

Vazio Redondo

Há um vazio redondo
que fere o silêncio e os gritos
como escarpas estilhaçadas...
Há um abismo redondo
na poeira dos meus passos
um precipício de medo
tecido na rotina dos dias...
Há um esgar de ausência
em cada noite encostado
como se esperasse
um pássaro por amanhecer...
Um cansaço de acuçenas
amarelecidas pelo tempo
sangrando as esperas na arena,
as Primaveras, subitamente feridas,
se extinguem num vazio redondo
como um grito contra o muro.

(Autora: Luiza Caetano)

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