UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Soneto

Os laranjais em flor. Noites estranhas
Em que o amor era flama e juventude.
Luas novas no céu, flores novas na terra,
Frutos para nascer, palpitando nas árvores.

Laranjais que a lua doce e quieta
Amadurecia com o seu sorriso enternecido;
Laranjais em flor que o vento amava,
Que o vento apertava nos seus longos braços;

Laranjais que já destes tantos frutos
- Dizei-me hoje : onde estão aqueles olhos
Cheios de mistérios e ternuras inéditas?

Dizei-me, árvores: onde estão aquelas mãos
De febre, aquelas mãos morenas e macias,
E aqueles seios nascendo no corpo em flor?

(Autor: Augusto Frederico Schmidt)

Nenhum comentário: