UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Quem sou eu

...É curioso como não sei dizer quem sou.
Quer dizer, sei-o bem,
mas não posso dizer.
Sobretudo tenho medo de dizer
porque no momento
em que tento falar
não só não exprimo o que sinto
como o que sinto se transforma
lentamente no que eu digo...
Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa
ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.
Não me dêem fórmulas certas,
por que eu não espero acertar sempre.
Não me mostrem o que esperam de mim,
por que vou seguir meu coração.
Não me façam ser quem não sou.
Não me convidem a ser igual,
por que sinceramente sou diferente.
Não sei amar pela metade.
Não sei viver de mentira.
Não sei voar de pés no chão.
Sou sempre eu mesma,
mas com certeza não serei a mesma prá sempre.

(Autora: Clarice Lispector)

Nenhum comentário: