UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Amigos

Escolho meus amigos pela cara lavada
e pela alma exposta.
Não quero só ombro ou colo,
quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto
não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim:
metade bobeira,
metade seriedade.

Não quero risos previsíveis nem
choros piedosos.
Quero amigos sérios,
daqueles que fazem da
realidade sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia
não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.

Quero-os metade infância e
a outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam
o valor do vento no rosto e
velhos para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber
quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos,
bobos e sérios,
crianças e velhos, nunca me esquecerei

(Autor: Oscar Wilde)

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