UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Eu queria...

Eu queria falar de um amor maior que o das canções de amor
Maior que dos filmes, que das novelas, maior que o amor genitor
Um amor que afaga, acalanta, que é gentil, pacificador
Eu queria falar de um amor maior que o das canções de amor
que não amputa, não julga, não cega

Falar sem medo de usar clichê, de ser cafona ou brega.
Não somente desse amor conjugal, tão normal nas canções de amor
Um amor que não virasse doença terminal
Que não ficasse trancado entre quatro paredes

Eu queria falar de um amor que rompesse a barreira do som,
Que não precisasse ouvir sininhos
Que estivesse rodeado de vizinhos
Por que amor não pode ser sozinho

O amor está em quem já deu, em quem doou, em quem doeu
O amor está no sim,
O amor não tem fim, e ponto final.
Um amor sem norma, que transforma
O Amor é gordura trans que não faz mal

É chocolate amargo que não entope as veias do safenado
Eletrocardiograma que não descompassa o marcapasso de quem ama
Eu queria falar de um amor maior que o das canções de amor
Em tom maior, que fosse além,

Como alguém que nos recebe bem
Como "uma porta que sempre está à espera de quem vem"
Não importa quem
Amor de "oi" e não de "adeus"

Um amor de Deus
Mas um Deus que não é meu, nem teu
Um Deus que ama ateu

Afinal, Deus é amor,
Deus é humor, cheio de graça
O amor está em quem abraça
Doença contagiosa
É assim que o amor passa.

O amor de um mundo todo
De todo mundo,
Um amor simples, de pequenas coisas
Como um bolo de aniversário, amigos e parabéns

Prá viver bem ninguém precisa de uma Mercedes Bens
Um amor de paisagem com laguinho
E gosto de fruta roubada no quintal da avó amada

Eu queria falar de um amor maior que o das canções de amor
Em nome da mãe de seus filhos
Em nome do pai, do filho, e por todos os cantos
Amém.

(Autor Desconhecido)

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