UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 28 de fevereiro de 2010

LIVRO: Mulheres de Água


Category: Books
Genre: Literature & Fiction
Author: Gabriel Chalita

Sinopse: As mulheres são as estrelas desta coletânea de contos. São relatos singelos e verdadeiros, em que até as tintas do drama ganham nuanças de humor e lirismo. Todas as histórias são resultado da aguda observação e da imensa sensibilidade de Gabriel Chalita. Nesta incursão pelo terreno da narrativa curta, o autor revela o espectro multicor dos sentimentos femininos e os desvenda com sutileza e perspicácia. Estão todos aqui: a inveja, o ciúme, a paixão, a esperança, a descrença, o desamor. Mulheres de Água é um livro que encanta, comove, alegra, mas que também faz pensar. Em resumo, é um livro sobre as mulheres em pleno diálogo com a vida.

*******

O subtítulo desse lançamento da Ediouro já entrega seu conteúdo: Contos sobre o universo feminino.

Embora seja amante das histórias com começo, meio e fim – sendo esse meio tomado de temperos – eu também sou apreciadora dos contos. Principalmente porque eles têm parte na minha história de leituras.

Em minha adolescência era tudo que eu lia: contos. Narrações fáceis, rápidas, livres de detalhes e que, independente de sua natureza, divertem. Você lê um conto agora, pula o próximo, lê o do final, volta ao anterior, não importa, porque o entretenimento e passatempo são garantidos. Por isso eu gostava tanto quando era mais jovem e, com esse livro, acabei redescobrindo essa antiga paixão. Taí! Adorei lê-lo!

Nesse livro quem brilha são elas. Somos nós! Mulheres bem e mal resolvidas, alegres e tristes, realizadas e frustradas e, até mesmo, todas numa só. E o foco é o amor. O amor conquistado, abandonado, desiludido, encontrado, materno.

Os textos contam os mais diversos fatos imaginários da vida de uma mulher, seu humor, suas paixões e seus desafetos. É realmente impressionante a capacidade de Gabriel Chalita em desvendar as mulheres e em descrever nas mais certas palavras todos os sentimentos que compõem a alma feminina. Fiquei impressionada com a riqueza das descrições e com o conteúdo farto em vocábulos e locuções.

Além de escrever bem, Gabriel Chalita é muito mais que um autor. Ele é membro da Academia Paulista de Letras, já foi Secretário Estadual da Educação e Presidente do Conselho Nacional de Educação. Atualmente está com o pé na política. Ele é vereador da cidade São Paulo e, atenção, foi o mais votado do Brasil nas eleições de 2008. Em outra palavra, Gabriel é o cara!

Abaixo um aperitivo do que contém na obra:

... Antes de ele acordar já estarei com o frescor de um novo dia, acompanhado do sabor da refeição matinal com pedaços de mel. Eu, inteira, um mel para adoçar. E na doçura terei a certeza de que a metamorfose há de acontecer. Quero ajudá-lo a ser de fato um homem com todos os predicativos condizentes com os de um homem...

... O amor é milagroso. A epifania do homem nascido no toque certeiro de uma mulher. Eu serei fada ou, se necessário, bruxa. Eu serei eu mesma ou, se necessário, outra qualquer, e depois mais outra. Serei como a água, que toma a forma do recipiente que a contém... (trechos da décima história, intitulada Amor Próprio).

Nenhum comentário: