UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 28 de fevereiro de 2010

LIVRO: O Rapto


Category: Books
Genre: Literature & Fiction
Author: Georgina Devon

Gosto muito de romances históricos que se passam na gloriosa época em que mulheres vestem vestidos pomposos, freqüentam bailes elegantes e jogam com os homens um jogo de sedução fantástica onde mais escondem do que mostram. Gosto de mocinhas corajosas e destemidas em uma época em que a mulher não pode falar ou agir como quiser. E de mocinhos que pareçam maus, mas que tem justificativa para seus atos aparentemente ruins.
Por isto escolhi este. E o título ajudou na escolha. Fiquei imaginando o rapto.
Não li nenhum resumo antes de começar a leitura, queria estar na expectativa.

Lilith e Perth formam o casal principal desta história. Eles tiveram um romance quando jovens e estiveram a ponto de se casar. Mas para salvar a família, em especial seu irmão Mathias que é viciado em jogo, Lilith deixa Perth no altar e casa-se com um nobre rico. Agora, dez anos depois, ela é uma viúva rica e Perth também é um rico nobre. Ele então resolve raptá-la: talvez para puni-la ou talvez para mostrar a ela o quanto ele ainda mexe com ela.

Vai o início para vocês lerem...

- Levante e renda-se!

Lillith, Lady de Lisle, reconheceu a voz imediatamente. Jason Beaumair, Conde de Perth. Ela não precisou olhar através da janela da carruagem para visualizá-lo. Taciturno, com frisas prateadas
nas têmporas e cabelo da cor do ébano, ele assombrava os seus sonhos. Uma cicatriz, adquirida em um duelo pela esposa de outro homem, recobria a face esquerda. Ela foi - ou era - tal esposa.

Um calafrio de premonição deslizou espinha abaixo. O que pretendia ele, ao deter a sua carruagem aqui em Hounslow Heath? Decerto não precisava das jóias dela. Era tão abastado quanto um sultão. Que jogo arriscado jogava o conde.

- Ei, cocheiro - ordenou a imperiosa voz de barítono de Perth -, desça com as mãos ao alto e vazias. E você... isto mesmo, você - acrescentou enfático para o único pajem -, largue a pistola ou o cocheiro pagará por seus atos.

Lillith entreabriu a cortina de veludo a tempo de ver o pajem largar a pistola. Perth assentava-se tranqüilo sobre um cavalo magnífico, um revólver em cada mão apontado para o cocheiro. Só mesmo o conde para reconhecer bons cavalos e não se importar com quem mais soubesse que o animal que montava era demasiado elegante para um salteador.

Ao menos, o sujeito usava uma máscara para cobrir o rosto. Acaso a sociedade ouvisse rumores da sua mais recente peripécia envolvendo-a, todos os escândalos de outrora seriam reavivados. Ela não tinha certeza se a própria reputação lograria resistir a outro assalto do conde. A única coisa que preservou seu bom nome da última vez foi a posição social do marido. Ninguém ofendeu De Lisle deliberadamente: o homem conhecia gente demais na corte. Entretanto, como viúva, ela não mais contava com a proteção do marido falecido. E Deus sabe que, se o irmão dela tentasse preservar seu bom nome, ambos seriam escorraçados de Londres sob gargalhadas.

- Você, dentro do veículo - ordenou a voz lânguida de Perth -, saia e fique onde eu possa ver melhor o resultado da minha ação.Ele permanecia arrogante como sempre. Era seu maior defeito e seu maior charme. Ela frustrou-o apenas uma única vez na vida e passou um longo tempo arrependida.

Com um suspiro e um sorriso sutil curvando-lhe os lábios, ela apertou a capa para proteger-se da friagem noturna e desceu. O verão há muito se fora. Uma brisa gélida fustigou os cabelos louros platinados, desfazendo os cachos intrincados nos quais a ama passou tantas horas caprichando. Os pés calçados em babuchas afundaram na grama úmida. O couro fino ficaria manchado. Não importava. Um par de babuchas arruinadas não significava nada. Uma grande fortuna foi o único benefício que ela recebeu por desposar De Lisle.

Ela fez uma mesura brejeira, sem jamais desviar o olhar da fisionomia arrogante de Perth. Ele lançou-lhe um sorriso sinistro, os majestosos dentes brancos reluzentes sob a luz pálida da lua cheia. Houve uma época em que aquela expressão no rosto dele a assustava. Agora a excitava. Ela era uma criança na primeira vez em que o enfrentou, ignorante e facilmente manipulada pela família. Era uma mulher agora, pronta para ele. Os olhos dele cintilaram.

- Venha cá.

Ela retribuiu o olhar sem titubear.

- Acho melhor não.

No início a leitura foi relativamente devagar. O rapto é o ponto de partida da história, e normalmente pareceria romântico ou algo assim. Mas eu não entendi a moral do mesmo. Perth rapta Lilith, que obviamente fez primeiro aquele jogo de "não, por favor" mesmo tendo reconhecido (ele estava de máscara) a voz do seu antigo amor. Ela implora que ele não faça isto, que preserve sua moral, tenta fugir, se machuca, ele cuida dela, blá, blá, blá.

Então ele a leva para um lugar distante onde estão só os dois e um "criado/amigo" de confiança e diz a ela que ninguém vai desconfiar, que a moral dela será preservada porque seu irmão Mathias não deixará ninguém saber e por aí vai.

Mas o que eu não gostei neste início (é minha gente, é só o início) é que ele não explica o porque do rapto. Se é vingança por ela tê-lo deixado literalmente no altar, se é uma forma de aproximar os dois, sei lá.

Eles ficam neste jogo de não contar o que sentem um pelo outro e tem tórridas noites após um jogo de “não quero”, “mas eu quero”.

Ele então a pede em casamento e ela recusa porque acha que ele não a ama e que só quer ficar com ela porque ela pode estar grávida.

A história melhora um pouco a partir do momento em que ele deixa ir.

O irmão dela é o mau caráter da história e faz a coisa ficar um pouco menos morna.

No geral, a título de diversão uma vez que estou em férias, foi um bom passatempo ler, mas não me cativou completamente. Esperava algo mais intrigante, com mais enredo e teias envolvendo esta história.

Esperava uma mocinha mais destemida e um mocinho mais objetivo. E, é claro, uma intriga enorme que levasse a história a um suspense maior.

Você não tem nada para ler e uma tarde livre? Até dá para querer, mas se tiver outro livro, deixa este para o fim da pilha.

Eu com certeza faria a mocinha sofrer mais e lutar mais pelo mocinho. Não tinha nem mesmo uma rival maligna que fosse cúmplice do irmão almofadinha e aproveitador.

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