UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Redenção

O que seria de mim sem a dor?
sem o choro sentido
sem o grito contido
sem sofrer por amor?
O que seria de mim sem o acalanto?
aquele dos seus braços após meu pranto
o calor do seu abraço
forte, insano
que me toma urgente, sem tino, sem compasso.

O que seria de mim sem seu afago?
aquele pelos cabelos
delicado, calado
aquele carinho sem pressa,
sem rumo, desorientado.
O que seria de mim sem suas juras?
suas desculpas?
seu torpor, meu dispor
seu embaraço, meu entrelaço
nossas gentilezas, sutilezas
daqueles que se desejam,
se completam,
se amam.

(Autora: Kátia Ruivo)

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