UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Poema dos desenganos

Antes eu tivesse partido
Para longe de mim...
Antes eu tivesse me refugiado
No antro dos velhos Magos...
- Porque eles me dariam a beber
O sumo da Flor-Sábia,
Da Flor-Mãe,
Que adormece,
Alivia,
Consola...
Antes eu tivesse partido
Para longe de mim...
Mas o antro dos Velhos Magos
É tão negro e tão triste...
Tive mede de me perder
Naquela treva,
De onde nunca mais
Poderia ver
Os caminhos sidéreos
Que a ti conduzem
Meus olhos...
Antes eu tivesse partido
Para longe de mim...
Mas doía-me adormecer,
Pelo medo de te deixar de amar...
No entanto,
Eu sei que tudo é inútil...
Eu sei que tudo é impossível...

(Autora: Cecília Meireles)

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