UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Canção Inútil



A vida, a verdadeira vida,
Aquela que não é vivida,
A que é perdida, sonhada,
A realidade irrealizada,
A que eu procuro e não encontro,
Houve por certo um desencontro...
Nenhum problema filosófico,
Trata-se de uma catástrofe.
Salva-se o corpo, é verdade,
Vive-se mas com humildade,
Em cima o montão de entulho,
E embaixo, humilhado, o orgulho.
Reveste-se um falso tédio
Qua adia o inútil suicídio.

(Autor: Dante Milano)

Nenhum comentário: